As regiões da Sé e de Pinheiros concentram mais da metade dos pontos culturais da cidade de São Paulo. É o que mostra um levantamento feito pelo G1 com base nos dados da Prefeitura de São Paulo.
São, ao todo na capital, 1.570 locais de cultura listados pela administração municipal. A relação, atualizada, está disponível no site da Prefeitura, em um novo espaço que abriga uma base de dados abertos (veja no mapa todos os pontos).
A Subprefeitura da Sé conta com 428 locais; a de Pinheiros, com 377. Juntas, elas possuem 51% do total.
O levantamento da Prefeitura considera como ponto cultural não apenas espaços formais, como bibliotecas e museus, mas também informais, onde há atividades como saraus literários e pequenos shows, como bares e livrarias.
Os dados revelam que algumas regiões periféricas da cidade praticamente não contam com nenhum tipo de equipamento cultural. Em Ermelino Matarazzo, na Zona Leste, há apenas um ponto listado: uma biblioteca pública. Já em Cidade Ademar, na Zona Sul, os moradores têm à disposição apenas uma biblioteca e um espaço que comporta teatro e cinema, ambos dentro de um CEU (Centro Educacional Unificado).
Moradora de Emerlino Matarazzo há 50 anos, a aposentada Clarinda Franchetto reclama da falta de opções culturais no distrito da periferia da cidade. “Eu acho que devia ter mais espaço para arte, exposição, música. São poucos os lugares para levar as crianças”, diz. A neta Helen, de apenas 9 anos, concorda: “Falta muito um teatro e um lugar para brincadeiras”.
Os adolescentes Sara Lopes de Melo, de 17 anos, e Luan Mike Ferreira das Neves, de 16 anos, que vivem em Ermelino, também dizem não ter outra alternativa a não ser frequentar a biblioteca Rubens Borba Morais. "Para a gente ir ao cinema ou ao teatro tem que pagar muito, porque não tem nada aqui", diz Sara, que afirma que o dinheiro do passeio vai todo para o transporte nesses casos.
Para o antropólogo Alexandre Barbosa Pereira, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o levantamento mostra a ausência do poder público na periferia. “Mesmo equipamentos públicos que têm na periferia são subutilizados, porque não há um diálogo com a população local para saber o que ela quer em termos de lazer e cultura”, diz.
“Se não fossem os CEUs (são quase 70 equipamentos culturais ligados a eles), a presença seria ainda mais diminuta nas franjas da cidade”, afirma o professor.
Pereira diz, no entanto, que isso não significa que não haja cultura e lazer nessas áreas. “Há uma série de iniciativas dos moradores, que têm criado seus espaços. Há, por exemplo, shows de música sertaneja e forró nos mais diferentes botecos, além de bailes funk na rua. Tudo isso também é ação artística-cultural e um forte sinal da falta de equipamentos mais formais.”
Cinema e pontos particulares
As salas de cinema compõem a principal opção de cultura em São Paulo. São 349. Isso não significa que há uma em cada local, já que em um único shopping, como no Interlar Aricanduva, existem 14 salas.
Logo atrás estão as salas de shows e concertos (276) e as salas de teatro (269). Há ainda 198 galerias de arte, 125 museus e 143 bibliotecas públicas.
Um dado que chama a atenção é a quantidade de pontos particulares. Eles representam 74% dos locais listados pela Prefeitura. Apenas 290 equipamentos (menos de 20%) são municipais. Cerca de 7% são de propriedade do governo estadual.
Na relação, portanto, constam, além de pontos públicos como a Casa das Rosas, a Pinacoteca e a Biblioteca Mário de Andrade, locais particulares como o Bar Brahma, o Studio SP e o Villa Country.
Fonte: G1.com