A série de manifestações contra a realização da Copa do Mundo no Brasil teve nesta quinta-feira, em São Paulo, sua edição com o menor número de detidos e menos depredações desde o início dos atos, em janeiro. Também pela primeira vez, um grupo de servidores da Ouvidoria das Polícias do Estado de São Paulo, em conjunto com ONGs e entidades de defesa dos direitos humanos, esteve no ato para acompanhar de perto se haveria excesso na conduta dos PMs e se o direito de manifestação seria resguardado. Ainda assim, alguns policiais trabalharam sem identificação, o que é considerada uma "transgressão disciplinar".
Ao todo, segundo o comandante do 45º Batalhão da Polícia Militar, tenente coronel José Eduardo Bexiga, cinco pessoas foram detidas com objetos como martelo, estilingue, além de bolas de aço. Eles foram encaminhados a dois distritos policiais – o 14º, em Pinheiros, e o 78º, nos Jardins. Uma agência bancária na avenida Paulista foi depredada.
No protesto ocorrido há menos de três semanas na região central, por exemplo, dois bancos foram depredados e 262 manifestantes foram detidos. Todos liberados na mesma madrugada. No ato de janeiro, 135 pessoas haviam sido detidas no protesto que terminou com três agências bancárias e uma viatura da Guarda Civil Metropolitana destruídos, além de um Fusca incendiado.
Por outro lado, o protesto desta quinta-feira novamente teve a participação da chamada Tropa do Braço – composta por policiais com treinamento em artes marciais – e um efetivo policial maior que o de manifestantes, a exemplo do ato de fevereiro: foram 2,3 mil PMs para cerca de 1,5 mil manifestantes.
"O balanço geral foi isso que a gente viu. Muita paz, uma manifestação boa. Teve a visibilidade e a Polícia Militar só acompanhando para que nenhum incidente maior acontecesse, inclusive para a segurança dos manifestantes", disse Bexiga.
Protesto é encerrado na Sé
Os manifestantes deixaram o Largo da Batata pouco depois das 19h30. Um um grupo pequeno cobria a cabeça ou o rosto com camisetas pretas, ao estilo black bloc, enquanto os policiais faziam o cerco ao local.
Participantes de movimentos sociais e universitários puxavam a parte mais numerosa da multidão com gritos contra o governo, o governador Geraldo Alckmin (PSDB), a Copa do Mundo e a Fifa, e brados a favor da estatização do transporte e o passe livre, por exemplo. No percurso pelas avenidas Faria Lima e Rebouças, caminho até a Paulista, onde o grupo começou a se dispersar, o protesto foi encorpado com participantes que não se reuniram necessariamente no Largo.
Diferentemente dos dois protestos anteriores, também, o terceiro ato contra a Copa não teve o uso de balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo por parte dos policiais. A única bomba foi lançada por manifestantes, na Paulista, sem o registro de ninguém ferido.
No trajeto, ainda na rua Vergueiro, depois de uma correria, manifestantes foram agredidos. Foi o caso do estudante Guilherme Caetano de Souza, 20 anos, que acabou com um corte na cabeça. "Os caras (PMs) me bateram e eu não fiz nada. Mandaram tirar minha mochila e me quebraram ali. Bateram na minha cabeça duas vezes com cassetete. A gente estava pacífico, não estava agredindo nada. Não estava fazendo nada de errado. Mas tá bom. Nunca roubei, nunca fiz nada. Bateram e mandaram eu ficar deitado no chão", disse.
De acordo com a PM, não houve mudança de atitude dos protestos anteriores para o dessa quinta. "A Polícia Militar sempre acompanha as manifestações buscando que essas manifestações sejam pacíficas. A atuação da Polícia Militar é fornecer segurança tanto para os manifestantes quanto para as pessoas que estão em volta. Quando não há nenhuma violência a ser coibida, a PM procede como foi hoje: simplesmente acompanhando e deixando que a manifestação flua normalmente com a menor quantidade de problemas tanto para os manifestantes quanto para o restante da população", declarou o tenente-coronel Bexiga.
Ao final da manifestação, um grupo de 50 jovens se reuniu nas escadarias da Catedral da Sé. Um deles pediu a palavra e discursou. "Queria agradecer a todos por terem chegado heroicamente até aqui. Poucos chegaram. Hoje estamos escrevendo um pedaço da história brasileira. Nestes mesmos degraus, pessoas lutaram por liberdade. Estamos fazendo o mesmo", disse um jovem, sob aplausos do pequeno grupo. No mesmo momento, policiais se cumprimentavam antes de deixar a praça.


Fonte: Terra Notícias