Apesar da fama dos brasileiros, os verdadeiros donos da festa na véspera da Copa foram os croatas. Ao menos na Vila Madalena, região de São Paulo conhecida por seus bares. Enquanto em outros estabelecimentos o movimento era tranquilo e até desanimava alguns turistas, na esquina das ruas Mourato Coelho e Aspicuelta os europeus literalmente paravam o trânsito.
Vladimir Sesar, analista de sistemas de 26 anos, é representante do Congresso Mundial Croata no Brasil e calcula que, desde as 17 horas, aproximadamente 350 croatas passaram por ali. Antes mesmo de chegar ao Brasil, cerca de 50 deles fizeram contato com Sesar, que ajuda não apenas com o idioma, mas também com informações e dicas sobre a cidade e o país.
Ele conta que, segundo a embaixada, 5 mil croatas vieram ao Brasil para a Copa do Mundo, centenas deles sem sequer ter conseguido ingresso para algum jogo. Ele diz que o encontro na Vila Madalena foi convocado por uma torcida croata, a Uvijek Vjerni, que significa “sempre fiéis”.
E a fidelidade é fácil de comprovar. Conversando com alguns dos torcedores, é comum ouvir histórias de gente que segue sua seleção em outros países da Europa e que não irá acompanhar uma Copa de perto pela primeira vez. Stjepan Juricic, por exemplo, mora na Bélgica, e diz que ameaçou pedir demissão caso o chefe não autorizasse suas férias nesse período. Ele esteve na Copa do Mundo de 1998, na França, e seu pai representou a família na de 2010, na Alemanha.
“Só precisamos bater o Brasil, mais nada. Quero que Neymar sofra”, diz, rindo, antes de garantir que é tudo brincadeira. “O fato de poder vir a uma Copa no Brasil já é incrível. E ver a Croácia enfrentando o Brasil, e na abertura ainda por cima, é uma chance única na vida. Eu não perderia por nada”, explica.
Junto com ele estava o casal Vjekoslav Jelcic e Elisha Jelcic. Recém-casados, eles vieram da Austrália, onde moram, e fizeram questão de incluir o Brasil no roteiro da lua de mel, depois de passarem pelo Chile e pela Argentina. “Diziam que o Brasil era um lugar perigoso, que não deveríamos vir. A imprensa australiana publicou muita besteira. Estamos adorando o país e todo mundo aqui é muito amável”, diz o jovem, empolgado.
E a animação croata acabou contagiando até mesmo adversários. Um grupo de mexicanos acompanhava a festa, com a justificativa de que “somos todos amigos, todos falamos a mesma língua, a língua do futebol”, de acordo com Gisela Rojas. Ao lado do marido, Aurelio Rojas, e do casal Maria Arambula e Ivan Castro, ela foi ao encontro dos croatas depois de passar por outro bar da região. “Estava muito calmo lá, só tinha brasileiros e eles estavam meio desanimados”, revela Maria. Os dois casais não irão à abertura da Copa, já que nesta quinta (12) viajam para Natal para acompanhar o primeiro jogo da seleção mexicana.
Quem também estava “perdido” por ali era o sul africano Dicks Maja, de 22 anos. Mas, com uma bandeira da África do Sul e uma camisa da seleção brasileira, ele era um dos mais assediados. Croatas, mexicanos e brasileiros pediam a todo momento para tirar uma foto ao lado dele e de seu irmão, Leon, de 29 anos.
“As pessoas estão sendo muito amigáveis, todo mundo nos trata muito bem aqui”, garante o jovem sorridente, que acabou no meio da festa quando procurava um lugar para jantar. Hospedados perto do bar, os irmãos estavam passando quando viram a agitação e decidiram se unir ao grupo. Eles chegaram ao Brasil na própria quarta-feira (11) e têm ingressos para a abertura da Copa.
O publicitário Pedro Cavendish, de 28 anos, também irá ao jogo de Brasil e Croácia e decidiu conhecer os adversários na véspera. Acompanhado por quatro amigos, dois deles com camisetas e acessórios verde e amarelo, ele elogiou a festa e justificou a presença no bar. “Viemos entender melhor esse clima de Copa”.
Fonte: G1.com