No período que antecede a Páscoa, muitos cristãos fazem penitência, abstinência e jejum, abrindo mão de prazeres do dia a dia. Deixar de comer chocolate ou carne vermelha são dois dos sacrifícios mais comuns, mas a designer cearense Milena Ribeiro, 25 anos, adotou como penitência ter calma no trânsito e respeitar os limites de velocidade das vias. Ela conta que dobrou o tempo de ida ao trabalho para cumprir a penitência e, recebe buzinadas constantes de outros motoristas.
Durante os 40 dias da quaresma e na Semana Santa, ela decidiu não passar de 60 km/h, obedecendo limites ainda menores se preciso for. Fora de Fortaleza, ela passa dos 60 km/h somente quando a via permite 80 km/h, como em alguns trechos da rodovia estadual CE-040.
“Vivemos muito para nós mesmos. As atitudes que nós tomamos são egoístas. Eu dirigia muito rápido, colocando em risco a minha vida e a dos outros. Todo mundo falava, mas eu não achava nada demais. Não conseguia ficar atrás de um carro. Com a penitência, vi que isso era uma desordem, que sou uma pessoa muito ansiosa”, explica Milena. A motorista admite que muitas vezes desrespeitou as leis de trânsito e já chegou a ser multada sete vezes por excesso de velocidade. “Em estrada, eu pegava 160 km/h tranquilo”, conta.
Penitência, abstinência e jejum
Para a Igreja Católica, a penintência está relacionada a evitar comportamentos negativos para se chegar às virtudes enquanto abstinência e jejum são mais ligados à alimentação. Durante a quaresma, que começa na quarta-feira de cinzas, por exemplo, muitos católicos se abstêm de comer carne vermelha e outros realizam jejum de só comer pão e água em dias específicos como forma de sacrifício e purificação. O período de quaresma terminou no domingo de Ramos, que abre a Semana Santa.
Paciência
Milena Ribeiro conta que dirigia “tesourando” os outros carros no trânsito de Fortaleza. Com a penitência, dirigindo a maior parte do tempo a 40 km/h viveu o outro lado. “Hoje, todo mundo buzina para eu dirigir mais rápido. Eu me vejo naquelas pessoas”, afirma.
Segundo a designer, antes da mudança, levava 30 minutos para chegar ao trabalho no município de Aquiraz, a 27km de Fortaleza. A demora passou a ser de 45 a 60 minutos. Segundo ela, como dirigia rápido e de forma imprudente, sempre conseguia chegar a tempo nos compromissos. “Nos primeiros dias da penitência, só chegava ao trabalho atrasada”.
No período que para a Igreja Católica deve ser pensado como de reflexão, autoconhecimento e transformação, Milena diz ter melhorado muitas atitudes. “Descobri que preciso ser paciente com as pessoas. Você vai aprendendo a ter paciência com você e com as pessoas. Percebi também que minha vida é muito corrida, que preciso me planejar melhor”, conta.
O “sacrifício” de Milena termina no próximo sábado (19), mas ela afirma que vai continuar sem ultrapassar os 60 km/h. “Já me acostumei. Não vou me agoniar, 'tesourar' os carros. Agora, deixo os outros motoristas me ultrapassarem”.