O Exército da Tailândia, que assumiu o poder na quinta-feira (22) com um golpe, convocou nesta sexta (23) mais de 100 personalidades - dos dois lados em conflito - para comparecer a uma unidade militar no norte de Bangcoc. "No total, foram convocadas 114 pessoas, a maioria ex-políticos do partido Puea Thai (governo deposto) e do Partido Democrata (oposição)", disse um oficial do Exército na televisão.
Ao mesmo tempo, a junta militar também proibiu 155 pessoas, incluindo ex-primeira-ministra Yingluck Shinawatra, de deixar o território. "No total, 155 pessoas foram proibidas de viajar ao exterior, salvo autorização" do novo regime militar, "para manter a paz e a ordem", declarou um porta-voz militar na televisão.
Portanto, Yingluck não poderá se reunir com seu irmão Thaksin Shinawatra, exilado depois de ter sido vítima de um golpe em 2006, e condenado posteriormente por desvio de fundos.
Ainda nesta sexta, o chefe do Exército da Tailândia, o general Prayuth Chan-ocha, se autoproclamou primeiro-ministro provisório do país. O Conselho Nacional para a Paz e a Ordem (CNPO), o nome oficial da junta militar comandada por Prayuth, informou em comunicado que o general assumirá as funções administrativas do cargo de primeiro-ministro até que se encontre um novo candidato definitivo.
O primeiro-ministro, Niwattumrong Boonsongpaisan, já se apresentou em um complexo militar ao norte de Bangcoc.
No total, 38 pessoas já responderam à convocação, entre elas Niwattumrong, que dirigia o governo interino após a destituição da premier Yingluck Shinawatra.
A ex-primeira-ministra e outros três familiares do polêmico ex-chefe de governo, o multimilionário exilado Thaksin Shinawatra, estão convocados. Além da irmã de Thaksin, Yingluck, primeira-ministra desde 2011 antes de ser destituída pela Justiça no início de maio, está seu cunhado Somchai Wongsawat, entre outros.
Wongsawat também era primeiro-ministro quando a Justiça o destituiu, em 2008.
Thaksin foi derrubado no golpe de Estado, em 2006.
O Exército tailandês anunciou um golpe de Estado na quinta, decretando o toque de recolher e a suspensão da maioria das liberdades individuais, depois de sete meses de crise política e de manifestações. Os militares também ordenaram que os manifestantes dos dois lados, acampados em Bangcoc, fossem para suas casas, e proibiu qualquer concentração de mais de cinco pessoas.
O novo regime também suspendeu a Constituição, mas decidiu manter o Senado, afirmando que isso permitirá governar o país sem problemas.
Depois de menos de três dias de lei marcial, destinada, de acordo com o Exército, a forçar o diálogo entre os envolvidos civis da crise política, o poderoso chefe do Exército, general Prayut Chan-O-Cha, apareceu durante a tarde de quinta na televisão para explicar que o golpe era necessário "para o país voltar ao normal".
O general destacou a violência no país, que deixou 28 mortos desde o início da crise no ano passado, principalmente durante manifestações.
Mas um toque de recolher foi decretado em todo o país e as emissoras de televisão e rádio precisaram interromper suas programações e difundir boletins do novo regime militar.
"O objetivo é fornecer informações precisas à população", leu um porta-voz militar na televisão, que exibia apenas fotos de soldados em um fundo branco entre as declarações lidas pelo militar.
As redes sociais também serão submetidas ao controle dos militares. O conteúdo considerado 'crítico' vai ser bloqueado.
A Tailândia sofreu 18 golpes de Estado ou tentativas em cerca de 80 anos. O último, em 2006, contra o então primeiro-ministro Thaksin Shinawatra, desencadeou uma série de crises políticas, levando às ruas inimigos e simpatizantes do bilionário, que continua no exílio.
A crise atual é apenas o último ato. Ela começou no outono com protestos exigindo a saída de sua irmã Yingluck, primeira-ministra desde 2011. Deposta pela justiça no início de maio, ela foi substituída por um governo interino que sobreviveu a duras penas, muito contestado pela oposição.
O anúncio do golpe de Estado na quinta foi feito duas horas depois da retomada das negociações entre os partidos políticos e os líderes dos manifestantes dos dois lados em um complexo militar na capital mantido sob forte esquema de vigilância.
Durante as negociações, o líder do movimento pró-governo dos Camisas Vermelhas, Jatuporn Prompan, propôs um referendo nacional sobre a melhor opção para sair da crise. Mas os dois lados, que concordaram em sentar-se à mesma mesa pela primeira vez em sete meses de crise, parecem irreconciliáveis.
Os partidários do governo insistem na necessidade de eleições o mais rápido possível, já que as de fevereiro foram invalidadas pela justiça devido às perturbações causadas pelos manifestantes.
Já os manifestantes querem um primeiro-ministro neutro, nomeado pelo Senado, na ausência da câmara baixa do Parlamento, dissolvida em dezembro.
Reação internacional
O secretário de Estado americano, John Kerry, condenou com firmeza o golpe de Estado militar, advertindo para o risco de consequências 'negativas' entre Washington e Bangcoc, dois países aliados. "Não há justificativa para este golpe de Estado militar", denunciou em um comunicado.
O presidente francês François Hollande condenou a tomada do poder pelo Exército, e fez um apelo por 'um retorno imediato à ordem constitucional' e pela organização de eleições. O chefe de Estado também pediu que 'os direitos e liberdades fundamentais do povo tailandês sejam respeitados'.
Já a União Europeia pediu um 'retorno rápido a um processo democrático legítimo' na Tailândia. Em um comunicado, o porta-voz da representante da diplomacia da UE, Catherine Ashton, afirmou que devem ser organizadas rapidamente 'eleições sem exclusão e com credibilidade'.