O zagueiro equatoriano e flamenguista Frickson Erazo mandou o recado avisando que na sua "casa" os franceses não iriam se criar. Mas o artilheiro Karim Benzema sofreu mesmo com a atuação do goleiro Dominguez, eleito o melhor em campo pela Fifa. Foi ele quem deixou o craque do Real Madrid fora do topo da lista ocupado por dois rivais do Barcelona na reta final da fase de grupos. Messi e Neymar fizeram quatro em três jogos. Na Copa do Mundo dos gols, a média de um por partida não foi suficiente para o francês que não canta a Marselhesa e tenta assumir, aos 26 anos, o papel de líder dos "bleus" com o corte do tarimbado Franck Ribéry.
Cercado de atletas ainda mais jovens, e pelo posto que ocupa no poderoso clube espanhol, Benzema já há algum tempo convive com as cobranças para que assuma um papel de protagonista na seleção. O pai, entrevistado pelo GloboEsporte.com, comparou o filho a Napoleão Bonaparte. Foi a maneira que encontrou para dizer que Benzema é jogador que precisa de um grupo unido para crescer.
Em um passado não muito distante, o atacante teve exibições bem diferentes das que o levaram a ser escolhido o melhor em campo nas duas primeiras partidas da França - contra Honduras e Suíça. O desempenho irregular o levou até a sentar no banco de reservas para dar lugar a Olivier Giroud nos últimos encontros das eliminatórias.
- Ele é um cara que precisa de confiança e precisa do grupo. Não é um jogador individualista, e agora o grupo está unido, está compacto, estão jogando como equipe. É assim que Benzema consegue se exprimir melhor e se sente confiante. Ele é como Napoleão. O meu filho não quer ganhar nada sozinho. O Napoleão não lutou sozinho, guiou um exército unido atrás dele e venceu pela França. Karim quer fazer o mesmo - explicou o pai, Hafid Benzema, em reportagem publicada no dia 21.
Ao entrar em campo, Benzema mostrou novamente que de fato as críticas não mudarão sua postura. Apesar de já ter sido alvo da mídia francesa por não cantar a Marselhesa, não deu o braço a torcer no Maracanã e ficou de boca fechada.
- Não sou obrigado a cantar o hino e não é por isso que gosto mais ou menos da seleção. Nunca o cantei em toda a minha vida e não o vou fazer agora. Não é por não o fazer que vou deixar de marcar um hat trick - justificou o goleador, antes da partida.
Não foi mesmo. Foi por causa de Dominguez. Benzema tentou, de todos as maneiras. Jogou com a 10 como um clássico 9. Ficou isolado, fácil de marcar, então recuou e fez jus ao número que usava, mas nem ele, nem quem colocava de frente para o gol conseguia transpor o paredão equatoriano. No primeiro toque na bola tentou fazer o típico lance de pivô em tabela com Matuidi. Não deu certo. Mostrando vontade, o francês pressionava em todas as bolas recuadas, evidenciando a dificuldade do goleiro equatoriano em sair jogando com os pés.
Gestos pedindo participação e palmas para divididas vencidas também fizeram parte do repertório. Na parada para atendimento de um equatoriano caído no chão, Benzema não foi beber água. Preferiu orientar seus companheiros de ataque, que pouco tempo antes desperdiçaram a primeira chance clara da partida defendida por Dominguez, em chute de Sissoko.
Matuidi e Sissoko, na verdade, eram os que mais incomodavam a defesa equatoriana, que não deixava Benzema no mano a mano em nenhum momento na primeira etapa. O bom senso de colocação por pouco não resultou em gol no cruzamento de Sagna pela direita, aos 26. Ficou nas costas de Erazo, e quem salvou foi Dominguez, afastando com a ponta dos dedos antes de o francês cabecear.
No fim do primeiro tempo, o nome que ecoava no Maracanã era o do seu marcador, criticado pelos torcedores do Flamengo, idolatrado pelos equatorianos. Benzema respondeu: recebeu na entrada da área, limpou a marcação, bateu firme, mas não conseguiu o efeito que pretendia e mandou nas mãos de Dominguez.
Tudo mudaria no início da etapa final. Logo no primeiro minuto, bola na trave. Dois minutos depois, expulsão de Valencia. Mais espaço no campo, porém, não significaria mais espaço sob a baliza. Benzema perdeu chance aos 12 e, embolado no meio dos zagueiros, percebeu que sua vida seria mais fácil recuando o suficiente para receber a bola de frente para o gol. Deu bons passes, tentou arrancada, e aos 32, em um dos avanços individuais, bateu reto para Dominguez encaixar sem susto.
Àquela altura, Benzema já havia praticamente deixado a função de centroavante, se posicionando quase o tempo todo na intermediária para tentar organizar o ataque ou buscar uma jogada individual. A chance derradeira veio aos 39. Em tabela com Giroud, o camisa 10 ficou finalmente cara a cara com Dominguez. De novo, melhor para o goleiro, em grande defesa. Não era o dia do atacante do Real Madrid, que, como pregou seu pai, não teve a glória individual de figurar no topo da lista de artilheiros da primeira fase, mas colocou seu "exército" no primeiro lugar do Grupo E.
Após a partida, Benzema se rendeu e rasgou elogios ao camisa 22 do Equador. Lamentou as oportunidades perdidas mas, como o técnico Didier Deschamps, procurou exaltar a classificação e minimizar o empate sem gols depois de duas vitórias convincentes.
- Caímos diante de um ótimo goleiro, ele soube realmente como deter os golpes. Espero que no próximo jogo a gente consiga a vitória. Não há adversário fácil. É uma questão de determinação - declarou.
Fonte: Globo Esporte